quinta-feira, 11 de março de 2010

Ser ou não ser!

Cena 01 - Cemitério - Anoitecer - Ext.
COVEIRO 01, Afro-descendente, 47 anos, careca, vestindo macacão da prefeitura. COVEIRO 02, Branco, 25 anos, cabelos na altura dos ombros e bagunçados, vestindo macacão da prefeitura. Se aproximam de uma cova semi-aberta.

Os dois entram na cova e começam a cavar.

COVEIRO 01 se abaixa e retira um crânio de dentro da cova.

COVEIRO 02 continua a cavar.

COVEIRO 01 segura o crânio em suas mãos virados para o seus olhos.


COVEIRO 01
Ser, ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para a alma? Suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso (CONTINUA)...

COVEIRO 02 para de cavar e se vira emburrado para o COVEIRO 01

COVEIRO 01
... ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando
resistir-lhes?

COVEIRO 02
Ah, pode parar com essa porra!

COVEIRO 01 para atordoado


COVEIRO 02
É Mermão, pode parar com essas porras, certo? Nem gosto disso! Fica pegando as caveira e vai falando esses poeminha du caralho.

COVEIRO 01
Qual é a treta?

COVEIRO 02
Cê tá ligado que o nosso trampo já é foda! A gente tem que ficar enterrando e disinterrando essas coisa!

COVEIRO 01
E dai?

COVEIRO 02
E dai que mexer cum us morto é pedir pra ter treta cara, tá ligado? Minha véia sempre disse que esses negócio de procacação; protastação..

COVEIRO 01
Profanação!

COVEIRO 02
É, essa merda ai. Que isso nunca ia dar certo, que esse trampo tá tudo errado.

COVEIRO 01 (rindo)
Cê tá ficando louco mesmo! A gente nem tá profanando nada!

COVEIRO 02
Claro que tá porra, a gente desenterra morto que devia tar enterrado. E para de rir alto porra! Essas merda de poeminha que tu fica falando atrai tudo as alma du inferno. Porra, porque eu tinha que trampar logo aqui?

COVEIRO 01
Esses poeminha que eu leio é tudo de um puta cara foda, tá ligado? O cara foi um poeta du caralho pra tu ficar falando essas merda ai.

COVEIRO 02
Já disse, foda-se! Você e esse seu cara foda!

COVEIRO 01
Só pra cê saber, ele foi o maior poeta das época dele!

COVEIRO 02 (assustado)
Então quer dizer que ele tá morto agora?

COVEIRO 01
Claro que tá!

COVEIRO 02
E você fica falando essas bosta e trai o morto ai de volta, porra!

COVEIRO 01
Volta porra nenhuma. Cê que tá se cagando de medo!

COVEIRO 02
Vai se fuder, porra!

Os coveiros escutam um barulho de folhas sendo esmagadas atrás de uma árvore próxima.

COVEIRO 02 esta muito assustado.


COVEIRO 02
Ai, deu merda, sabia. Caralho!


COVEIRO 02 pula de dentro da cova e sai correndo.

COVEIRO 01 Ri e olha para a árvore. De trás da árvore sai um gato malhado de preto e branco e se aproxima do coveiro.
Ele pega a gata na colo.


COVEIRO 01
Ofélia, minha bela! O que estas a procurar nesse jardim?


FIM

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