terça-feira, 2 de março de 2010

VERMELHO E DE GOSTO PECULIAR

Não era exatamente uma visão confortável. Era vermelho e tinha um gosto peculiar.
Ela pensou seriamente em chorar, mas de nada adiantaria, pois o mundo era um deserto particular.
Foi terrível o acidente. A sorte a salvou. Sim foi a sorte, esta magnifica “coisa” na qual ela sempre acreditou e sempre acreditaria.
Ela acreditava em jogos. Aquele era o resultado de um jogo íntimo.
Até que ponto eu posso chegar? Pensou 5 minutos antes.
Certamente já havia ocorrido outrora, mas só agora ela tinha discernimento para horrorizar-se com o vermelho em suas pernas. Estranho foi constatar que por dentro tudo é liquido.
Levantou-se e correu para o gramado. Olhou para o caminho percorrido para certificar-se de que não haviam migalhas vermelhas. Nenhuma gota. Tudo esta encrostado em suas pernas.
Teve vergonha. O que iriam pensar os que olham de cima? Como voltaria para sua casa?
As perguntas não faziam sentido, até porque conhecia bem as respostas. Era uma questão de tempo e coragem transformar as respostas obvias em ação.
A grama estava queimada, seus olhos lacrimejantes, sua bicicleta ruborizada, suas pernas cruentas.
Delongaram-se pouquíssimos segundos para que ela percebesse que sangrara, e aquela consciência perduraria até seu leito de morte.
Agora eu sei o que é sangue. Disse ela em voz alta.
As nuvens anunciavam a proximidade da chuva.
Resoluta ergueu-se e ignorou a dor. Colheu sua bicicleta, antes abandonada no sarjeta, e exitou antes de montá-la novamente. Apostou novamente na sorte, e conseguiu bater o recorde de velocidade estabelecido pouco antes do acidente.
Tinha 6 anos e percebeu que sangrava, mas nada mudou. Mesmo sangrando ela continuou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário